quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Li e Gostei......Os “chumbos” da Dra. Isabel Alçada


Texto escrito por Emidio Guerreiro e publicado na edição de 4 de Agosto de 2010 do Diário de Coimbra


A natureza humana surpreende-nos a toda a hora. Vá-se lá saber porquê, quando o país começava a ir de férias (nem que isso seja ficar em casa), a Senhora Dra. Isabel Alçada, Ministra da Educação de Portugal, anunciou que ia acabar com os “chumbos” nas escolas. Porquê? Porque os referidos “chumbos” não contribuem para o sucesso escolar e também porque Portugal deve seguir o modelo Finlandês! E assim, e quando nada o faria supor, o governo voltou a enviar sinais errados a toda a comunidade. Claro que os sindicatos e os pais (e aqui leia-se CONFAP) logo se manifestaram de acordo. Mais sinais errados…
Os “chumbos” são consequências, isto é, são resultados originados pelo facto de os alunos não terem tido aproveitamento escolar, de não saberem a matéria necessária para transitar de ano. É importante não esquecer isto! Diria mais, é mesmo muito importante perceber isto!
Ora, não se modificam as consequências agindo sobre elas. É preciso intervir sobre as causas. É preciso intervir sobre as estratégias que conduzem aos resultados. É por isso que um Governante não pode dizer que vai acabar com os “chumbos”. Tem de afirmar um caminho diferente para chegar a resultados melhores! Tem de dizer que a nossa taxa de insucesso é muito elevada, tem de saber a razão dessa taxa, tem de definir uma estratégia de intervenção ajustada e concretizá-la, esperando atingir resultados melhores!
Mas nada disto se tem feito. Os programas curriculares estão em revisão desde 2005, mas apenas em gabinetes. As distribuições das cargas horárias pelas diferentes áreas de saberes, criticadas por todos, mantêm-se inalteradas! As regras dos poucos exames que se fazem mudam quase todos os anos, o que impede a comparabilidade dos resultados! A palavra de ordem é: facilite-se que temos de melhorar as estatísticas!
Não é assim que ganhamos a batalha da qualificação nem do sucesso escolar. A vida não é fácil e a Escola deve preparar as crianças e os jovens adequadamente. Valores como o do trabalho, empenho, assiduidade, qualidade e exigência devem ser realidades quotidianas na escola. A bem de todos! A bem do nosso futuro colectivo!
Esta deveria ser a grande preocupação do Governo. E não é…, infelizmente não é…
Mas e o que fazer aos jovens com mais dificuldades de aprendizagem? Apostar forte em medidas de apoio, estratégias de recuperação e de integração. Mas, e pergunta o leitor, não foi isso que a Ministra disse? E eu respondo, disse, mas não o faz! A redução dos apoios para as necessidades educativas especiais, a aplicação cega da famigerada tabela CIF, retiraram os apoios a crianças com certo tipo de necessidades, como sejam as dislexias, perturbando e piorando o seu desempenho escolar!
E foi este o Governo (tal como o anterior) que, com o apoio do CDS/PP, “chumbou” a criação de equipas multidisciplinares nas escolas para apoiar os alunos e os seus pais. Ou seja, esta Ministra, com aquele sorriso simpático, diz umas coisas mas faz o seu contrário…
Termino com uma curta referência à “parolice” da referência ao modelo Finlandês. Na Finlândia os “chumbos” são quase inexistentes, não porque um Governo assim o decretou, mas porque gerações de governos trabalharam no mesmo sentido, onde os programas são claros, onde se apreende que não se pode faltar, que é preciso estudar para apreender e que nada se obtém sem trabalho!
Ah, e as escolas Finlandesas não têm mais de 500 alunos nem as turmas mais de 20 alunos. Enfim, pequenos detalhes para uma Ministra que optou por investir milhões em aumentar a capacidade das escolas secundárias para 1500 a 2000 alunos e fechou as pequenas escolas pelo interior do país…
Pequenos detalhes para o Governo, pois o que interessava mesmo era animar a “Silly Season” com o fim dos “chumbos” …