Um artigo de Francisco Moita Flores, Presidente da Câmara de Santarém, sobre as Directas no PSD)
Espero que Passos Coelho ganhe as eleições. Não sou militante do PSD. Mas amo o meu país. E gosto da palavra Pátria. Sabe-me bem até ao tutano dos ossos. E da palavra escrita em Português. Somos o povo do desenrasca. Desorganizado. Capaz da genialidade do improviso. Incapaz de se organizar. Séculos de barafunda. Inventámos o mundo e esbanjámos sempre aquilo que o mundo nos entregou. Mas somos a Pátria do afecto, do abraço, da festa. E resmungões. Mais refilões do que revolucionários. Incapazes de consolidar elites criadoras. Fogem daqui a sete pés. Somos exportadores de inteligência. Se a inteligência pagasse IVA, o ministro das finanças não precisava de PEC.E adoramos o decadentismo.
Não sou militante do PSD, dizia. Mas nas sua listas, liderei o projecto Santarém. Na primeira eleição passámos dos oito mil votos, de média histórica, para doze mil votos. Coisa que só uma vez o Prof. Cavaco Silva conseguira numa das suas maiorias absolutas. Ganhámos. O mais impávido e sobranceiro bastião socialista ribatejano caiu feito em cacos.Agora, nas últimas autárquicas, chegámos aos 22 mil votos. Não volto a recandidatar-me a Santarém. O trabalho que estamos a fazer e o crédito a favor do PSD é de tal forma que só a palermice pode fazer com que não dure muitos anos.
Dito isto, está encontrada a razão para escrever sobre esta campanha interna, na qual não voto. Pois sendo assunto interno, não deixa de ser externo. Não deixa de ser de todos aqueles que acreditam que é possível um país mais feliz. Não digo social-democrata, exactamente como é o modelo social-democrata. Esta gente, a nossa gente, jamais vestirá uma roupeta social-democrata feita da mais nobre e alta-costura ideológica, parida da racionalidade para expurgada de emoções. Jamais! Que se desiludam os políticos que adoram fatos feitos com o rigor milimétrico da teoria política mais erudita. Nem vestirá a fatiota socialista. Nem a democrata cristã e muito menos as cartilhas marxistas, leninistas, maoistas e imbecilidades derivadas. Tirando o Eng.º Sócrates, o Dr. Portas, meia dúzia de advogados de negócios e de gestores públicos de gorda remuneração, a malta não gosta de alfaiates. Estão a definhar. Alinhamos com a maior alegria do mundo em tudo o que seja pronto-a-vestir, feira de Carcavelos e gostamos de novidades. Daí a nossa reconhecida paixão internacional por telemóveis. Quanto mais complicados, melhor. Adoramos improviso, acho que já disse. E adaptações.
Bom, chegados aqui, devo dizer que a fatiota que Paulo Rangel, e a sua equipa de músicos e actores contratados, só por piedade, pode merecer a credibilidade de militantes e do povão que habita no imaginário social-democrata. Porquê? Pela simples razão que é tudo aquilo que este povo resmungão, fadista, criador, herói do desenrasca, inteligente, pouco organizado não gosta. Fala muito bem com os dedos, argumentarão os seus acólitos. Mas isso não é falar! É esvoaçar. Que tem uma grande retórica. Tê-la-á. Que bom proveito lhe faça. Mas não tem alma! Existe mais alma num improviso curto de Cavaco Silva, o mais desastrado retórico desta República, do que na voz metálica, quase histérica, do demiurgo Rangel. Não sorri com afeição. Não ganha simpatizantes, apenas meros adeptos. Adeptos do quê? De uma putativa herança herdada do aparelhismo. Essa ideologia clandestina, oculta, grave e ruim, que fala, fala e esconde aquilo que lhe interessa. E apenas lhes interessa os seus interesses. Diz e desdiz. Já lhe ouvimos tudo aquilo que o povão adora ouvir, e já disse o seu contrário. Rangel diz. Não faz. Por uma simples razão. E é de carácter. Este povo, a nossa gente, é capaz dos piores disparates, dos maiores rasgos de genialidade, de entrar numa galeria pejada de quadros de Vieira da Silva e roubar um leitor de cassetes (e isto testemunhei enquanto polícia) mas é incapaz de trair um amigo. Aquilo que Rangel fez a Aguiar Branco é um defeito de carácter. Jamais se lhe descolará da pele. Não é política. Não é estratégia social-democrata. Não é nada. Quem trai o amigo que lhe estendeu a mão, trairá sempre. Quer o Conde Andeiro, quer o Vasconcelos de 1640, quer qualquer outro da mesma cepa, enganará por algum tempo. Mas não por muito tempo e vai pela pia ou será mais um produto da operação Limpar Portugal.
Dirá quem me ler, que este é um discurso cesarista. Que não importam as pessoas mas o projecto, blá, blá, blá. Uma ova! Não existe grandes projectos que não sejam servidos por homens grandes e bons e belos, sendo a base desta grandeza, desta bondade e desta beleza uma elevada exaltação do espírito. É impossível! Isto que acabo de escrever, disse-o Antero de Quental durante a Questão Coimbrã. Cento e cinquenta anos depois, ainda não aprendemos? Claro que aprendemos. Pode Rangel com o seu séquito de músicos itinerantes, e de que ele nunca ouviu falar, com os seus actores contratos, de que nunca ouviu falar, com a ajuda do célebre call center, de que ele nunca ouviu falar, com os tais fortes apoios do aparelho, de que ele nunca ouviu falar, pedir maiorias absolutas para convencer militantes mais ou menos atordoados com a crise em que se transformou o PSD e desejosos do surgimento de um qualquer D. Sebastião de entre o nevoeiro. Não chegará de certeza. E amanhã explicarei porquê. Até porque esta candidatura não é outra coisa a não ser o nevoeiro.
E agora assino:
Francisco Moita Flores
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